e o passadiço de madeira que todos os dias
me poderia levar até mar não desapareça
sob o peso das pálpebras que é como quem diz
sob as construções na areia que nunca fiz
de tal forma me habituei a aprumar o desassossego
Talvez um deus exista na solidão de cada seixo
que ficou por fotografar a preto e branco
como antigamente quando ainda era possível
atravessar o tempo que há-de vir
com os cordões desapertados sem termos
que regressar à infância
para fazer destes malabarismos
com as coisas que deixamos por fazer
Talvez um deus exista para além da incidência desta pouca luz
sobre a passagem onde nem um passo se desvanece
onde só o esquecimento repetidamente deflagra
e em cada golpe de silêncio eu ainda acredite
que há palavras poisadas sobre os lábios
e que as podemos adivinhar
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