sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

 

  Fernando Pessoa



"É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
... Difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo."
Fernando Pessoa
 

 

 
Foto: Curtam!!
○○••♥••Coração Absoluto••♥••○○
 
Recolhimento...
Desapego...
Lágrimas...
Memórias...
Nostalgia...
Cheia e vazia...
Procurando a força...
Erguendo-me...
...como uma árvore que abana com o vento, mas mantêm-se enraizada na Mãe Natureza em sintonia com o Universo...
... E o seu próprio ser....
...é assim que me sinto...

 Om Shanti
 
Foto: Recolhimento...
Desapego...
Lágrimas...
Memórias...
Nostalgia...
Cheia e vazia...
Procurando a força... 
Erguendo-me... 
...como uma árvore que abana com o vento, mas mantêm-se enraizada na Mãe Natureza em sintonia com o Universo...
E o seu próprio ser....
...é assim que me sinto...
Om Shanti
 

Recolhimento...
Desapego...
Lágrimas...
Memórias...
Nostalgia...
Cheia e vazia...
Procurando a força...
Erguendo-me...
...como uma árvore que abana com o vento, mas mantêm-se enraizada na Mãe Natureza em sintonia com o Universo...
... E o seu próprio ser....
...é assim que me sinto...
Om Shanti

 
 
 

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012



Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLIII"
Heterónimo de Fernando Pessoa
 
"Os sentimentos que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são absurdos - a ânsia de coisas impossíveis, precisamente porque são impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outr...o, a insatisfação da existência do mundo. Todos estes meios tons da inconsciência da alma criam em nós uma paisagem dolorida, um eterno sol-pôr do que somos...O sentirmo-nos é então um campo deserto a escurecer, triste de juncos ao pé de um rio sem barcos, negrejando claramente entre margens afastadas."

(Livro do Desassossego: Composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa / Fernando Pessoa)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012


Mar sonoro, mar sem fundo mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós.
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
... Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
... Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.
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Alma gémea...
"As almas gémeas quase nunca se encontram, mas, quando se encontram, abraçam-se, sentem-se. Naqueles momentos em que alguém diz uma coisa, que nunca ouvimos, mas reconhecemos não sei de onde. E em que mergulhamos sem querer, como se estivéssemos a visitar uma verdade que desconfiávamos existir, de onde desconfiamos ter vindo, mas aonde não tínhamos conseguido voltar.
O coração sente-se. A alma pressente-se. O coração anda aos saltos dentro do peito, a soluçar como um doido, tão óbvio que chega a chatear. Gémea não é igual. É parecida. Não é um espelho. É uma janela. Não é um reflexo. É uma refracção. O desejo de encontrar uma alma gémea não é o desejo de reafirmarmos a unicidade da nossa existência através de outro que é igual a nós. É precisamente o contrário. É poder descansar dessa demanda.
O estado normal de duas almas gémeas é o silêncio. Não é o "não ser preciso falar" - é outra forma de falar, que consiste numa alma descansar na outra.

Como é que se reconhece a alma gémea?
No abraço. No beijo. Quando duas almas gémeas se abraçam e se beijam, sente-se o alívio imenso de não ter de viver. A sensação é de sermos uma alma no ar que reencontrou a sua casa, que voltou finalmente ao seu lugar, como se o outro corpo fosse o nosso que perderamos desde a nascença. As almas gémeas revelam-se uma à outra. Não são iguais. Mas revelam-se de forma igual. Como se tivesse surgido, de repente, uma língua que só os dois conseguissem falar. Toda a angústia do eu se dissipa. É-se inteira e naturalmente aceite. Sem perguntas. Sem condições. Sem promessas. E mergulha-se no outro como se já não fosse preciso existirmos. "
Miguel Esteves Cardoso

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012



Mas eu, em cuja alma se refletem
As forças todas do universo,
Em cuja reflexão emotiva e sacudida
Minuto a minuto, emoção a emoção,
Coisas antagônicas e absurdas se sucedem —
Eu o foco inútil de todas as realidades,
Eu o fantasma nascido de todas as sensações,
Eu o abstrato, eu o projetado no écran,
Eu a mulher legítima e triste do Conjunto
Eu sofro ser eu através disto tudo como ter sede sem ser de água.
No imenso mar á minha espera,
o toque da espuma arrepia-me.
O que sinto não importa.

Os corpos aproximam-se sibilando sons que não reconhecemos.
O que pressinto prenche
e ficamos ali,no espaço entre coisa nenhuma.
Dá-se o encontro entre o que era e o que desconheciamos.
Irradiam luz,força.
Percorrem-nos voltagens que não reconhecemos.
Misturam-se,fundem-se.
Atraem-se vezes sem conta,criando a ilusão de unidade.
Mesmo pasmos,repetimos gestos,
inventamos movimentos....tornando-nos um só!
Dança simbólica dos inicios,dos começos
Uma brisa percorre os corpos num abraço
e descansam